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Templo de Salomão, nova sede da Igreja Universal do Reino de Deus (Foto: Mario Ângelo/ Estadão Conteúdo) |
Se no cômputo geral (levando em conta todos os eleitores independentemente de credo religioso) Dilma tem 38% e seus adversários somados 37% -- o que indica uma possibilidade alta mas não a certeza de segundo turno -- ao olharmos apenas para o eleitor evangélico, Dilma teria 29% e os adversários somados 41%, o que levaria certamente a disputa para o segundo certame. Neste, indica o Ibope, entre os evangélicos, Aécio bateria Dilma por 35% a 33%. Entre os católicos, se dá o inverso: Dilma ganharia do tucano por 45% a 32%.
Se 36% dos eleitores em geral não votariam de jeito nenhum em Dilma, entre os evangélicos esta rejeição salta para 41%; já a rejeição a Aécio, que é de 16%, não oscila segundo a religião.
O Ibope não faz distinção entre evangélicos pentecostais e não pentecostais. Entre estes últimos a rejeição a Dilma é ligeiramente maior, conforme mostram outros institutos de pesquisa.
Neste contexto ganha importância a inauguração, na próxima quinta-feira (31), no bairro do Brás, em São Paulo, do monumental Tempo de Salomão, da Igreja Universal do Reino de Deus, cujos representantes na política – aglutinados em torno ao PRB – têm, até aqui, manifestado apoio à reeleição de Dilma. Segundo noticiaram os jornais, Dilma deve comparecer à inauguração do Templo. Com pedras trazidas de Israel, comporta 10 mil pessoas em um complexo de onze andares.
Como se sabe, o principal líder da Igreja Universal, Edir Macedo, é também controlador da Rede Record. Suas relações com o governo não vem de agora. Em outubro de 2009, por exemplo, Lula compareceu como presidente à inauguração de estúdios da Rede Record no Rio de Janeiro.
A religião, que foi importante na eleição de 2010 – quando temas como o aborto ganharam visibilidade na disputa do segundo turno – deve ocupar, de novo, lugar de destaque em 2014. A questão da homossexualidade – o casamento gay – pode ser o tema da vez, quem sabe?
O certo é que a mistura religião-política traz reflexos concretos para muita gente: a aprovação ou regulação de políticas públicas já existentes podem sofrer reveses ou simplesmente saírem de pauta por conta de acertos políticos. Em maio, por exemplo, o Ministério da Saúde incluiu o aborto legal (em caso de estupro e outros) na tabela do SUS. Após reações contrárias, voltou atrás. Tanto evangélicos como católicos têm suas bancadas de deputados federais e estaduais – e convergem em temas como o do aborto, encarado como assunto moral.
A ligação entre religião e política vem de longa data. A primeira bandeira brasileira, aquela do Império, de 1822, trazia no seu centro uma cruz intersectada ao meio – a da Ordem de Cristo. Historicamente, a separação entre Igreja e Estado no Brasil só aconteceu em 1889, com a proclamação da República. Uma das maiores rebeliões populares brasileiras, a de Canudos, se deu, em parte, por conta desta separação – Antônio Conselheiro enxergava na República o anti-Cristo e profetizava o retorno de D. Sebastião que instauraria a Justiça Divina na Terra.
Não é o caso, é claro, de evocar o arraial de Canudos agora, mas foi o que me ocorreu ao pensar no contexto brasileiro a relação entre religião e política.
Talvez por ser majoritária, embora em declínio em número de fiéis, a Igreja Católica tenha métodos diferentes de lidar com a política dos abraçados pelas igrejas evangélicas, particularmente as pentecostais. Mas no fim, é sempre a política: a disputa sobre quem vai ter o que, quando e como.
Fonte: yahoo