Artur Souza deixou o emprego na Nokia para se tornar um dos 50 brasileiros que trabalham na rede social com mais de 1 bilhão de usuários no mundo: "Parece que faz três anos"
No início de junho de 2012, o brasileiro Artur Souza, 28 anos, entrou pela primeira vez na sede do Facebook, na cidade de Menlo Park, Califórnia (EUA). A empresa estava movimentada, pois naquele dia, além de Artur, uma nova turma de estagiários começava a trabalhar na empresa. Depois de se identificar, Artur ficou esperando a recepcionista encontrar seu nome, mas não estava na lista. "Ah não, você é um funcionário 'full time', não um estagiário", disse ela, antes de liberar a entrada do primeiro engenheiro de software do Facebook contratado para trabalhar no Brasil.
Fotoarena/Fernando Genaro
"Faz pouco mais de seis meses, mas parece que já faz três anos", diz Artur Souza, sobre experiência no Facebook
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Souza passou seis semanas na sede do Facebook para um processo de integração, chamado de "bootcamp". Ele não ficou impressionado com os lanches à vontade, serviço de lavanderia de graça e academia dentro do Facebook, facilidades encontradas em muitas empresas do Vale do Silício (EUA). O que mais chamou a atenção dele foi a recepção da empresa aos novos funcionários. "No meu segundo dia programando, eu já tinha código rodando no Facebook. Não existe outra empresa no mundo em que, com dois dias apenas, eu já teria este impacto em 1 bilhão de pessoas", diz Artur.
O primeiro contato sobre a vaga para trabalhar na engenharia do Facebook no Brasil, para fazer a interface entre a equipe técnica e de vendas de publicidade, aconteceu em março de 2012. Naquela época, Souza trabalhava como engenheiro de software no Instituto Nokia de Tecnologia, em Recife (Pernambuco), e tinha acabado de se casar -- a esposa mudou para Recife e, apenas alguns meses depois, tiveram que retornar a São Paulo. "Tive que passar por entrevistas técnicas e de negócios, já que precisaria manter contato com a equipe de vendas."
Meu primeiro "iPod"
O interesse de Artur por tecnologia começou muito antes de o Facebook nascer. Nascido em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, ele interagiu pela primeira vez com o computador na escola e, no mesmo dia, pediu um de presente para a mãe. "Ela me disse que eu ia ganhar quando soubesse digitar com todos os dedos, só não esperava que eu fosse tão aplicado para aprender em apenas uma semana", diz Artur.
Com 13 anos, ele e um amigo se inscreveram em um curso para aprender a escrever código na linguagem Delphi. Semanas depois, em casa, aprendeu sozinho a programar em Clipper.
O conhecimento em programação o ajudou a realizar outro sonho de consumo: ter um tocador de MP3. Como muitos outros jovens, Artur não via a hora de comprar um iPod, tocador de MP3, da Apple, mas o produto era muito caro. Foi então que ele resolveu usar os conhecimentos em programação para criar seu próprio tocador de MP3.
Artur comprou peças de computadores antigos, um display de máquina de refrigerante e um teclado numérico pela internet e montou tudo dentro de uma caixa de acrílico. Depois ligou o conjunto ao computador por meio da porta paralela, a mesma usada para conectar impressoras de modelos mais antigos. O protótipo funcionou. "A minha ideia era instalar o tocador de MP3 no carro do meu pai, mas ele não deixou. Mas eu aprendi muito nessa época", diz Artur.
Espírito de startup
Depois da proximidade com a tecnologia durante a infância e adolescência, não foi difícil se acostumar com a cultura do Facebook. Segundo Artur, que chegou à empresa logo após a oferta inicial de ações (IPO), o Facebook consegue manter o clima de startup, apesar de ter mais de 4,6 mil funcionários em todo o mundo: nenhum funcionário tem sala própria e todos na sede almoçam no mesmo local, inclusive Mark Zuckerberg, fundador e CEO do Facebook. "Ele parece ser uma pessoa muito aberta. Qualquer pessoa pode falar com ele, se tiver algo para falar, claro", diz Artur, que nunca falou diretamente com Zuckerberg.
Artur voltou ao Brasil após o "bootcamp" e passou a dividir seu tempo entre escrever código para projetos locais e receber demandas da equipe de vendas do Facebook e auxiliar desenvolvedores locais em projetos baseados na plataforma. O engenheiro também viaja muito para outros países da América Latina, como Argentina e México, para discutir projetos com as equipes de vendas desses países. "A ideia é crescer o time em breve no Brasil, mas ainda não temos uma data para contratar mais gente."
O primeiro hackaton
Apesar de todos os projetos de engenharia que têm impacto na plataforma do Facebook serem desenvolvidos na sede, Artur já teve a oportunidade de criar novos recursos. Durante o último hackaton, maratona de programação que envolve toda a equipe de engenharia do Facebook, ele desenvolveu um novo botão para o recurso de eventos que permite exportar listas de convidados para uma planilha eletrônica.
"Eu estava com um colega no escritório e ele disse que seria bom se ele pudesse deixar uma lista de convidados com o porteiro dele, para que ele o interfone não tocasse toda hora. Virou meu projeto de hackaton", diz Artur.
Durante 24 horas, ele desenvolveu o novo recurso e o apresentou para outros engenheiros do Facebook. Rapidamente o botão começou a ser testado com um grupo pequeno de usuários e logo estava disponível para os mais de 1 bilhão de usuários do Facebook. "Muitos dos recursos mais importantes do Facebook também nasceram em hackatons, como a linha do tempo, o chat. A empresa incentiva que os funcionários façam projetos que não tem nada a ver com o seu dia a dia durante os hackatons."
Fonte: IG -
- iG São Paulo