Guy Adams e o filho, William, que chegou a acordar às 4h da madrugada pedido para usar o iPad |
O britânico Guy Adams, que escreve para o ‘Daily Mail’, relatou em texto publicado nesta quarta-feira (29) como seu filho de 3 anos ficou viciado no iPad – o garoto chegou a acordar às 4h, dizendo que precisava usar o tablet. Diante do problema, Adams buscou ajuda, submeteu a criança a um período de “detox” e criou regras para o uso dessa tecnologia.
“Alguns dirão que é irracional sugerir que uma criança de três anos (…) sofre de algum tipo de dependência. Outros poderão dizer que (…) estou tentando me esquivar da responsabilidade que tenho sobre seu comportamento”, ponderou. Mas ele adota a palavra “vício” e afirma que esse comportamento tende a afetar as gerações mais novas – principalmente aquelas que usam eletrônicos antes de aprender a falar ou andar.
“A vergonha e tristeza que me tomaram quando percebi que meu filho estava viciado ficarão comigo para sempre”, relatou. Segundo ele, isso aconteceu no início de janeiro, quando William entrou no quarto dos pais às 4h. “Pai, preciso do iPad”, disse o menino. “Olhei para o relógio, fiquei de pé e fui com ele até seu quarto”. Ele colocou o filho na cama, dizendo que precisava dormir, pois ainda era noite.
Às 7h, quando acordou, Adams percebeu que o iPad não estava em seu quarto – ele havia deixado o eletrônico carregando. Foi então para a sala, onde encontrou o filho no chão, jogando “Pig’s Puddle Jump”. A bateria estava na metade, indicando que William já tinha usado o tablet por pelo menos duas horas. O pai tomou o iPad, e o filho reagiu chorando muito.
Na escola, a professora relatou que o garoto estava apático e perguntou à mãe de William, Katie, se estava tudo bem em casa (a família havia notado a criança mais irritada e agressiva). Nesse mesmo dia em que acordou de madrugada, ele bateu na irmã, Megan, de um ano e meio, quando ela o interrompeu durante uma partida de “Angry Birds”.
Limites
Os tablets são considerados boas babás para as crianças, até os pais perceberem os perigos das compras dentro dos aplicativos. Eles são tantos que, nos Estados Unidos, a Justiça americana determinou que a empresa pagasse cerca de R$ 200 milhões em indenização a pais que tiveram contas fora do comum no iTunes |
Adams chegou em casa logo depois da briga entre irmãos – a segunda situação de estresse, no mesmo dia, motivada pelo tablet. Quando sua mulher falou que eles precisavam dar um basta, ele concluiu que o filho estava viciado no iPad – vivendo assim uma relação insalubre com a tecnologia.
O britânico buscou ajuda na internet, encontrando muitos casos parecidos com o seu. Ele chegou então ao site do psiquiatra Richard Graham, que lidera um serviço de atendimento no hospital Capio Nightingale, em Londres, voltado a jovens viciados em tecnologia. Entre os pacientes atendidos pelo psiquiatra estava uma criança de quatro anos “obcecada” por seu iPad.
Seguindo dicas publicadas por Graham, Adams iniciou um tratamento de “detox” (desintoxicação), privando seu filho de qualquer equipamento tecnológico por 72 horas. Ele descreveu o primeiro dia como “brutal”, com o menino reclamando, implorando e chorando. William chegou a demandar seu iPad, aos berros.
Os outros dias foram melhores, com o garoto redescobrindo outros brinquedos, como quebra-cabeças e livros. Ele também passou a pedir o tablet em menos ocasiões.
Foi então que a família começou um processo de reintrodução do iPad, durante períodos controlados: duas horas por dia, no total, divididas em curtas “sessões”. Ele não pode usar o equipamento até uma hora antes de dormir. O brilho da tela foi reduzido, e aplicativos muito barulhentos foram eliminados. Duas vezes por semana, o garoto fica completamente sem acesso a eletrônicos: trata-se da “dieta 5:2 de tela”.
Além disso, o uso é sempre supervisado pelos pais. No ano passado, Willian chegou a comprar diversos aplicativos de forma automática, via iPad, até que Adams descobrisse como bloquear o aparelho. Recentemente, a Apple foi condenada a pagar US$ 32,5 milhões (quase R$ 76,4 milhões) referentes a essas aquisições feitas por crianças, sem o consentimento dos pais.
Melhora
Adams diz que vem seguindo esse sistema há duas semanas. “Depois do período de ‘cold turkey‘ (síndrome de abstinência) cheio de lágrimas, William aceitou sua nova relação com o iPad. No começo desta semana, sentamos juntos no sofá, para jogar. Depois de meia hora, ele me disse que era hora de se preparar para dormir”.
“O iPad será sempre parte de sua vida. Mas espero que a violência, as agressões e acordar às 4h (para usar o tablet) sejam algo do passado. E eu e Katie nunca vamos contratar a iNanny (algo como iBabá) novamente”, concluiu.
Fonte: UOL/BOL e Verdade Gospel