Medida, que ainda precisa ser aprovada por presidente, proíbe que parentes e a própria vítima possam testemunhar contra acusado |
“O que está a acontecendo é grotesco”, disse à BBC Manizha Naderi, diretora do grupo “Women for Afghan Women”, organização que defende os direitos humanos das mulheres afegãs. “Torna impossível levar à Justiça casos de violência contra as mulheres.
A lei altera uma seção do Código Civil que proíbe o testemunho das mulheres, das crianças, dos médicos e dos advogados de defesa envolvidos na queixa ou no caso contra o acusado. Assim, nem uma mulher espancada ou mutilada pelo marido, pai, irmão ou sogro, nem o médico que a assistiu poderão testemunhar contra o marido, pai, irmão ou sogro.
“Os assassinatos de honra, que são cometidos por pais e irmãos que não aceitam o comportamento das mulheres, vão ficar sem punição. Os casamentos forçados e a venda ou troca de filhas para resolver disputas ou pagar dívidas também deixam de estar ao alcance da lei num país onde a Justiça para este tipo de crimes já é rara”, lamenta Naderi.
Em muitos países do mundo a lei impede um dos elementos do casal de prestar testemunho contra o outro. Mas os legisladores afegãos levaram esse princípio ao extremo, de acordo com a ONG Human Rights Watch, “já que as mulheres ficam completamente desprotegidas”. Depois de não conseguir bloquear a medida no Parlamento, ativistas planejam pressionar o presidente para suspenda a nova lei.
“Vamos pedir ao presidente para não assinar a medida até que o artigo seja alterado, vamos colocar muita pressão sobre ele”, disse Selay Ghaffar, diretora de uma organização de assistência humanitária e defesa de mulheres e crianças no país.
Em 2009, a pressão das organizações não governamentais conseguiram que o presidente alterasse a lei que dizia que o marido tinha direito a ter relações sexuais com a mulher sempre que quisesse, não havendo violação em caso algum. Porém, notam as mesmas ONG, Karzai (e o sistema legislativo) está agora bastante mais conservador e no ano passado o Parlamento impediu a discussão de outra lei relativa às mulheres e à sua participação na vida social e política – previa a criação de quotas para mulheres nos conselhos provinciais. E o ministro da Justiça chegou a propor que se voltasse a legalizar o apedrejamento das adúlteras.
Fonte: O Globo e Verdade Gospel