O advogado Neto Ribeiro usou seu perfil no Facebook para, de forma irônica, criticar a política de preços dos alimentos no Acre, após o isolamento do estado por causa da cheia do rio Madeira. Ribeiro afirma que itens produzidos no próprio estado estão sendo vendidos a preços exorbitantes.
Neto diz que saiu de casa de bicicleta porque não tinha combustível na cidade, e que voltou com uma dúzia de ovos, 1 Kg de farinha de Cruzeiro do Sul, 100 gramas de castanha e um pacote de biscoito de goma, totalizando R$ 50.
Veja a publicação:
Um conto (nada) de fadas e bem real no fantástico mundo das maravilhas de um (quase) santo.
Hoje acordei e resolvi fazer uma programação diferente. Como Diesel S-10 está em falta na cidade (faltou primeiro que a gasolina), peguei minha magrela - que não é elétrica, pois não dou conta de carregar a bicha com o preço da energia no Acre - e fui dar uns bordejos usando a maior e mais moderna malha de ciclovias de capitais do país (proporcionalmente).
Estranhamente o trânsito - caótico as 7 da manhã - estava tranquilo, o que facilitou a pedalada até o Mercado Municipal Elias Mansour. Lá chegando procurei comprar alguns PRODUTOS MADE IN ACRE (todos de EXPORTAÇÃO), afinal, este Estado é um pólo produtor sem igual.
E como a mente humana é algo incrível e atiça o desejo nos momentos mais inoportunos, a vontade de comer uma farofa de ovo fez a boca salivar. Procurei o fruto da penosa - que vai ser exportado em pó pra China - e quando vi o preço quase digo para o vendedor que estava querendo comprar o ovo e não a granja inteira!!! Ele, educadamente, me vendeu uma dúzia, alegando a impossibilidade de vender mais:
- Sabe como é, né Doutor?! Tem que racionar já que o produto tá em falta no mercado... Tem que atender a clientela toda.
Eu, acreditando piamente que está tudo sob controle, não entendi o porquê daquela atitude. Como acordei de ótimo humor preferi não discutir. Peguei minha dúzia de ovos e continuei a fazer a feira pro "quebra jijum".
No meio da pernada (deixei a bike no bicicletário, rezando pra quando voltar ela ainda estar por lá) lembrei que a farinha lá de casa tava na rapa final da lata (lá em casa guardamos farinha na lata, pra não resfriar!) e fui comprar a quebra dente, de preferência a da Terra dos Nauas, a gloriosa Cruzeiro do Sul. Encostei na banca e pedi um litro de farinha e o cabra me abarca um:
- Nego réi, ti falar pá ti, tá 10 conto o litro, vai?!
Meu amigo vendedor é natural de Cruzeiro e comercializa em Rio Branco o produto mais conhecido de sua terra, além, claro, dos famosos e biscoitos de goma. Eu, sem alternativa, por causa da água na boca (que não era a pizzaria) levei o litro a módicos 10 conto e aproveitei e pedi pra jogar na sacola um pacote de biscoito de goma (de 100 gramas!) e ali já deixei vintão.
Mas, dizem os especialistas que não devemos ir ao mercado com fome, porque sempre acabamos levando mais do que aquilo que precisamos. Comer uma farofa de ovo com farinha de Cruzeiro do Sul e ralar uma castanhazinha do Pará (tá bom! Da Amazônia...) na farinha é de lei, né mermo?!?!
Então, logo ali na banquinha da frente, avistei uma senhora vendendo uns pacotinhos da danada e fui até lá. Chegando, disse:
- Minha tia, quanto é que tá a ex-castanha do Pará?!?! (em pensamento completei a frase: atual da Amazônia, que dizem ser toda produzida no Acre e que abastece o Brasil todo?!?!)
A dona Maria, provavelmente esposa do seu Zé e tia de todo mundo que chega naquele mercado disse:
- Tá 20!!!
Eu, educadamente, disse:
- Dona Maria, pelo amor de Deus! Só quero o pacotim de castanha! Não quero pagar a castanheira inteira não...
Ela, simplesmente riu e disse: - É, meu fie, a coisa tá "compricada"! E eu só ganho "2 real" no pacote.
A essa altura eu já tava cuspindo tijolo de tão seca que tava a boca... Mas, como já tava ali e lascado já estava, levei o pacotim de 100 gramas de castanha e lá se foram as últimas partes da onça que levara no bolso (devidamente legalizada) pra comprar uma dúzia de ovos, um quilo de farinha de Cruzeiro do Sul, um pacote de biscoito de goma e 100 gramas de castanha do Pará (ok! da Amazônia)...
Confesso: foi a farofa de ovo mais cara que já comi na vida! O biscoito de goma deixei pra comer a tarde com um cazézinho... Mas no reino encantado da floresta do melhor lugar para se viver na Amazônia, isso deve fazer parte da minha fértil imaginação, afinal, por aqui está tudo bem - é o que me dizem os anúncios na televisão. Os estoques estão normalizados e os postos estão sendo abastecidos com a balsa perdida, que dizem os plantonistas, já atracou em Porto Acre.
Mas isso é uma outra história...