segunda-feira, 3 de março de 2014

Estudo inédito revela que o brasileiro vota de forma conservadora

Pesquisadoras mostram que o eleitor brasileiro prefere votar em homens com mais de 50 anos, alta escolaridade e da carreira política. Em Minas Gerais, o envelhecimento dos eleitos é maior

Entre 1998 e 2010, número de deputados eleitos para a Assembleia Legislativa de Minas que já eram políticos saltou de 21,92% para 63,8%
Estudo inédito sobre o perfil dos deputados estaduais e distritais eleitos entre 1998 e 2010 revela um eleitor conservador, que privilegia o voto em representantes homens, com alta escolaridade, da carreira política. Além disso, até pelo crescimento das taxas de reeleição, a cada novo pleito é registrado aumento da idade média com predominância, em 2010, de deputados eleitos de 50 a 59 anos. A conclusão é de Simone Cristina Dufloth, da Fundação João Pinheiro, coordenadora do projeto “Análise do perfil dos representantes eleitos nas assembleias legislativas: estudo aplicado às unidades da federação”, e das pesquisadoras Cláudia Júlia Guimarães Horta e Carla Cristina Aguilar de Souza. 

É um voto que favorece o status quo e o parlamentar que já está na carreira. “Entre 1998 e 2010, cresceu de 17,1% para 47,6% o sucesso eleitoral de candidatos que informaram à Justiça Eleitoral ter carreira política”, avaliam elas. Até porque, reeleitos, os parlamentares também estão mais velhos a cada novo pleito. A idade média dos deputados estaduais eleitos subiu nesse período de 44,97 anos em 1998 para 47,85 anos em 2010, indica o estudo. Quando os deputados estaduais e distritais eleitos para as assembleias legislativas e câmara distrital são analisados segundo as faixas de idade, há um deslocamento entre 1998 e 2010 da categoria de 40 a 49 anos – que em 1998 representava 41,5% dos eleitos – para a categoria de 50 a 59 anos, que em 2010 já integrava 31,34% dos eleitos. 

Em Minas Gerais, esse perfil da representação de deputados estaduais que se expressa na “carreira política” e, a cada novo pleito, no “envelhecimento” dos eleitos, é ainda mais intenso. Entre 1998 e 2010, os deputados que informaram ter carreira política à Justiça eleitoral saltaram de 21,92% para 63,8%. Além disso, a sua idade média é maior do que a média geral de idade dos deputados estaduais e distritais das assembleias do país: passou de 47,59 anos em 1998 para 48,28 anos em 2010. 

Esses dados são consistentes com a queda na taxa de renovação nos legislativos brasileiros ao longo da última década: mais parlamentares estão se reelegendo. Dados do Departamento Intersindical de Estudos Parlamentares (Diap) indicam que na Câmara dos Deputados em 2006 foram 48% de novos deputados eleitos. Em 2010, 45% novos deputados ganharam cadeiras. Nas assembleias legislativas de todo o país, a taxa de renovação média caiu de 52,58% em 2002 para 44,17% em 2006 e para 40% em 2010, segundo informações fornecidas pela União Nacional dos Legislativos (Unale). 

Além de ter, ao longo das últimas quatro eleições para as assembleias legislativas, optado cada vez menos por novos candidatos “de fora” da carreira política, o eleitor brasileiro continua a se identificar mais com as candidaturas de homens do que de mulheres. Também para as assembleias legislativas é reiterada a constatação de especialistas que acompanham a representação feminina na Câmara dos Deputados. “Entre 1998 e 2002, as deputadas eleitas subiram de 10,11% para 13,35%. Mas esse percentual oscilou para 11,66% em 2006 e para 13,02% em 2010”, sustenta Simone Cristina Dufloth. 

Em 2010, as assembleias legislativas do Mato Grosso do Sul, do Mato Grosso, de Goiás e de Minas Gerais apresentaram o pior desempenho em relação à representação feminina. Nas duas primeiras, nenhuma mulher foi eleita. Em Goiás, apenas 5,71% das cadeiras; em Minas, 5,8%. Nas assembleias legislativas de Sergipe, do Amapá e do Piauí foram registrados os maiores índices de sucesso eleitoral feminino: 23,81%, 25% e 25,93% das cadeiras foram conquistadas por mulheres. 

Preconceito
O pífio desempenho eleitoral das candidaturas femininas se verifica apesar da chamada política de cotas, diretriz legal em vigor desde 1997, segundo a qual cada partido ou coligação deve preencher o mínimo de 30% e o máximo de 70% para candidaturas de cada sexo, assinalam as pesquisadoras. “As mulheres também continuam subrepresentadas a despeito de a composição do eleitorado brasileiro ter se revertido no hiato de gênero, passando as mulheres a representar a maioria dos votantes em todas as faixas etárias”, acrescenta Simone Cristina Dufloth. 

As pesquisadoras chamam ainda a atenção para o fato de a subrepresentação da mulher nos legislativos brasileiros apontar para o preconceito do eleitorado em relação à mulher, que, em sua avaliação, manifesta-se, principalmente, pelo eleitorado feminino, que também é influenciado pela cultura patriarcal, conservadora, e, muitas vezes, por forças religiosas que reforçam o “papel subalterno” da mulher. 

Apesar de na população brasileira, segundo o censo de 2010, apenas 7,9% ter o ensino superior completo, 70% dos deputados estaduais e distritais eleitos no último pleito têm nível de escolaridade superior completo. “Na eleição de 1998, 63,69% dos deputados estaduais e distritais declararam ter nível de escolaridade superior completo. Ao longo das últimas eleições, esse percentual vem aumentando paulatinamente”, afirma Simone Cristina Dufloth. “Pessoas com baixa escolaridade têm, a princípio, menores chances de ser eleitas para deputado estadual ou distrital”, considera Simone Cristina Dufloth. Em 2010, apenas 5,21% dos deputados estaduais e distritais eleitos tinham escolaridade menor do que o ensino médio completo. Em Minas Gerais, em 2010, 72,46% dos deputados estaduais eleitos tinham escolaridade superior e apenas 4,35% não tinham concluído o ensino médio. 

Estratégia eficiente

Embora ainda considerada alta quando a taxa de renovação dos legislativos brasileiros é comparada com outras democracias estáveis, é fato que a carreira política é intercalada por mandatos legislativos e executivos. Depois de eleitos, muitos deputados estaduais e federais disputam, já no ano seguinte, as prefeituras. Especialistas consideram a estratégia eficiente para que os deputados permaneçam na carreira política: nas eleições majoritárias ganham visibilidade e, se eleitos, assumem a chave do cofre do município, o que constitui grande oportunidade para levar benefícios às suas bases eleitorais. Ao fim do mandato executivo voltam para as assembleias legislativas e Câmara dos Deputados.
Fonte: Bertha Maakaroun em
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