Carreira do artista cearense se entrelaça à história recente das artes cênicas no Brasil

Sucesso de 'Dona Flor e seus dois maridos' (1976) levou ator ao reconhecimento internacional
A voz grave que tornou-se inconfundível para os telespectadores foi o motivo do primeiro contato de José Wilker com o mundo artístico. Aos 13 anos, inscreveu-se na disputa por uma vaga como locutor da TV Rádio Clube, no Recife. Com timbre incerto pela puberdade, não foi selecionado para os microfones, mas conseguiu chegar à figuração em encenações de teleatro do canal, que o levaram a investir na carreira sobre os palcos. Através do Movimento Popular de Cultura do Partido Comunista, estudou teatro e trabalhou em direção e produção de montagens no sertão.
A mudança para o Rio de Janeiro, em 1967, tinha motivação ideológica: aos 19 anos, José pretendia estudar sociologia. Recém-chegado à capital fluminense, foi envolvido pela efervescente cena cultural e deixou de frequentar o curso, concentrando-se novamente na vocação para a atuação. Equilibrava a conquista de papéis cada vez mais expressivos no teatro com oportunidades de crescimento no cinema.

Wilker interpretou personagem-título de 'Roque Santeiro' nas duas versões da novela
A revelação do jovem ator chamou a atenção de Dias Gomes, que lhe abriu as portas para a TV com o personagem Zelito, de 'Bandeira 2' (1971). Passou a emplacar personagens seguidos nas telinhas, em trajetória marcada por figuras carismáticas como Mundinho Falcão, de 'Gabriela' (1975) e o protagonista Rodrigo, de 'Anjo mau' (1976).
Retomando a parceria com o padrinho Dias gomes, protagonizou a primeira versão de 'Roque Santeiro', novela que teve estreia impedida pela censura durante a ditadura militar, em 1975. Dez anos mais tarde, estrelou a segunda montagem da trama na pele do personagem-título, ao lado de Regina Duarte (Viúva Porcina) e Lima Duarte (Sinhozinho Malta) — um marco na história da teledramaturgia nacional.

''Vou lhe usar'': Jesuíno, do remake de 'Gabriela' (2012) rendeu bordões divertidos que viraram febre
A maturidade lhe trouxe ainda mais reconhecimento na TV, onde dedicou-se recentemente a papeis biográficos como Juscelino Kubitschek em 'JK' (2006) e Luis Gálvez, de 'Amazônia' (2007). Reviveu o inesquecível Zeca Diabo na segunda versão de 'O bem amado' (2011), uma releitura da obra do amigo Dias Gomes. Também revisitou uma trama do passado ao assumir o coronel Jesuíno Mendonça no remake de 'Gabriela' (2012), antes de interpretar o médico Herbert Marques em 'Amor à vida', seu último papel nas telinhas".
Uma das últimas missões de Wilker nos cinemas se passou no sertão mineiro, através da obra de Guimarães Rosa. O ator surgirá nas telonas como o cangaceiro Joãozinho Bem Bem na adaptação de 'A hora e a vez de Augusto Matraga', conto do autor de 'Sagarana' transformado em longa sob direção de Vinícius Coimbra. Lançado há dois anos, o filme deve ganhar distribuição comercial ainda em 2014.

Apaixonado por cinema, artista tornou-se referência na crítica da sétima arte, e apresentava a transmissão do Oscar no Brasil ao lado de Maria Beltrão