quinta-feira, 26 de junho de 2014

Jordan Campos: 'Dacnomania - Entenda porque o Suárez mordeu o italiano'

Colunista explica o que aconteceu durante a partida pela Copa do Mundo.

* Por Jordan Campos
Hoje, na Copa do Mundo todos estão comentando um lance curioso: o atacante uruguaio Luis Suárez mordeu seu adversário italiano em pleno momento de jogo. Logo após o ocorrido veio à tona a informação de que este é o terceiro episódio público em que o atacante faz a mesma coisa. Muitos estão o chamando de louco, desequilibrado, doente mental – mas que tal parar um pouco e tentar entender o que está por detrás deste sintoma. Sim – isso é um sintoma de um ou alguns conflitos não assimilados, estes conflitos são a “doença”, e o ato de morder, apenas o sintoma desta “doença-conflito”.

Suárez me fez lembrar a clássica definição da síndrome de morder a si ou a outros. Isto se chama Dacnomania. Com total certeza o Suárez faz isso desde criança sempre quando se sente sob alta pressão e stress, e a mordida é a forma encontrada por ele para drenar esta adrenergia em seu sangue e cérebro. È uma forma de o corpo fazer interromper o fluxo de adrenalina que pode causar prejuízo ao corpo. Assim, quando ele morde, passa a liberar acetilcolina, que por sua vez, cancela a ação maléfica do stress causado pela adrenalina. E pasmem – não é racional esta atitude dele. No momento da adrenergia (muita adrenalina circulante), o atleta fez isso sem pensar nas consequências. A polêmica aqui então é: se ele não sabia o que fazia naqueles segundos, ele deve ser punido?

Vou entrar num assunto aqui para ser mais claro. Temos em nosso cérebro dos tipos diferentes de funcionamento e depender do tipo de situação que estamos enfrentando e como nossas crenças traduzem isso. Temos assim, para ser didático, dois cérebros. O cérebro analítico e o cérebro reativo. O primeiro analisa, faz contas, pondera e então toma a decisão – digamos que indivíduos normais estejam nele quase que 98% de um dia. O outro cérebro, o reativo – é totalmente focado na resposta do que chamamos de sistema reptliano, sim nós temos uma parte do cérebro idêntica a dos répteis, e como eles, apenas reagimos. O cérebro reativo é chamado a funcionar quando estamos em risco, ou quando nossa CRENÇA pensa estar sob risco. Ele então anula a ação do analítico e entra em sistema de defesa realizando duas funções básicas – atacar ou fugir. Apenas estas duas opções o cérebro reativo pode decidir. E no momento em que o jogo estava e sob alta adrenalina, de repente o sistema operacional do Suárez entrou no modo “reativo”, e ele mordeu- atacou, pois na sua crença não poderia fugir (sair do campo, pedir para ser substituído).

Agora você deve me perguntar: “Ok, Jordan – mas porque ele mordeu? – Poderia ele ter tido outra reação? Chutar, xingar, se bater?” – “Por que escolheu MORDER?”
A “escolha” de morder não foi feita por ele, e sim pelo seu sistema reativo. A depender da criação e do modo de desenvolvimento de todos nós, do que nos sobrou ou faltou, podemos ter diferentes e bizarros modos de reatividade. Tal qual a criança que é abusada sexualmente pode responder em seu cérebro reativo com uma relação de dor, punição e humilhação para ter prazer no sexo... Eu gastaria horas aqui fazendo possíveis relações que explicam outras reações. O morder me faz lembrar das fases de desenvolvimento que Freud classificou. Freud usa o termo fixação para descrever o que ocorre quando uma pessoa não progride normalmente de uma fase para outra, mas permanece muito envolvida numa fase particular. Uma pessoa fixada numa determinada fase preferirá satisfazer suas necessidades de forma mais simples ou infantil, ao invés dos modos mais adultos que resultariam de um desenvolvimento normal. Uma das fases de aprendizado e desenvolvimento é a chamada Fase Oral.

Entenda: Desde o nascimento, necessidade e gratificação estão ambas concentradas predominantemente em volta dos lábios, língua e, um pouco mais tarde, nos dentes. A pulsão básica do bebê não é social ou interpessoal, é apenas receber alimento para atenuar as tensões de fome e sede. Enquanto é alimentada, a criança é também confortada, aninhada, acalentada e acariciada. No início, ela associa prazer e redução da tensão ao processo de alimentação. A boca é a primeira área do corpo que o bebê pode controlar; a maior parte da energia reativa disponível é direcionada ou focalizada nesta área. Conforme a criança cresce, outras áreas do corpo desenvolvem-se e tornam-se importantes regiões de gratificação. Entretanto, alguma energia é permanentemente fixada nos meios de gratificação oral. Em adultos, existem muitos hábitos orais bem desenvolvidos e um interesse contínuo em manter prazeres orais. Comer, chupar, morder, lamber ou beijar com estalo, são expressões físicas destes interesses. Pessoas que mordicam constantemente, fumantes e os que costumam comer demais podem ser pessoas parcialmente fixadas na fase oral, pessoas cuja maturação psicológica pode não ter se completado, como é o caso do Luiz Suárez. Ele deve ter passado por algum conflito não assimilado nesta fase de desenvolvimento e registrou a mordida como forma de sublimação do que lhe faltou. Pode ter sido sua relação com o seio da sua mãe, pode ter sido uma surra porque ele mordeu a caneta preferida do pai... E muitas hipóteses. Mas o drama do Suárez começou lá atrás, e precisamos aqui de uma Copa para nos fazer entender que ele precisa de ajuda. Ele reage com uma “fase oral tardia” ao stress.

Não confundamos este problema com a “Odaxelagnia” – que é a vontade de morder carinhosamente as pessoas. O que o Suárez tem se chama dacnomania. Não sei se a Fifa vai levar isso em consideração. Eu, sabendo disso tudo daria a ele uma punição educativa – condicionaria a continuidade de atleta dele a um acompanhamento psicológico visando resolver o conflito não resolvido de sua fase oral. Tirá-lo de um ou mais jogos não vai resolver nada. Pois não vai reeducar o que aconteceu lá atrás. Espero ter ajudado a entender algo importante. A informação nos liberta e faz nos compreender neste mundo. O julgamento vazio nos atrasa e faz de tudo um inferno sem fim.

*Jordan Campos é terapeuta transpessoal sistêmico, clínico, escritor, palestrante, conferencista internacional e músico.

Fonte: primeoffer
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